Friday, May 16, 2008

Pára-ráios de incompetência

"Se algum dia chover mulher, vão cair dois homens no meu colo". Essa expressão é do meu tio. De fato, ela foi "suavizada" para que eu pudesse publicar e ainda ser convidado à lares católicos. Na citação original, o devaneio meteorológico acontece com pedaços do corpo humano.


Apesar disso, a frase dá o real sentido da minha situação. Eu acho que tenho uma forma muito específica de azar: eu atraio incompetência e serviços mal prestados. Não sei ao certo o que se passa ou o porquê disso tudo, mas parece que tudo o que é gente incompetente é atraída para mim. Depois da vergonha chamada AJATO, esbarrei em outro exemplo de gente sem a menor noção do que estava fazendo ao alugar um imóvel por uma imobiliária chamada Hoffman.

Passei por muitos problemas graças à inépcia deles (em troca do qual ouvi da gerente, Srta. Rose, um singelo "só o que nós podemos fazer é lhe pedir mil desculpas"). Escrevi uma queixa formal e, como prometi na carta, publico agora no Blog. Segue a carta na íntegra (sem nenhuma edição posterior: ela foi escrita por volta das 2 da manhã, no saguão do prédio onde moro atualmente).

Carta de contestação de vistoria / Queixa sobre procedimentos da imobiliária


São Caetano do Sul, 10 de março de 2008

Aos responsáveis pela Hoffman Imóveis.


Quando entrei na Hoffman pela primeira vez, fiquei bastante impressionado: as mesas dispostas em fila, a recepção, os uniformes. Tudo me levava a crer que esta era uma empresa que me prestaria serviço com qualidade. Em poucas semanas, fui surpreendido por uma realidade deveras diferente. O que segue é um relato das agruras pelas quais tenho passado desde que iniciei o processo de locação do apartamento da Rua Nononono, n° 999, apartamento 99, em São Caetano do Sul.
Não tenho qualquer queixa sobre o atendimento da corretora (de quem já não me lembro mais do nome). Até onde percebo, meus problemas tiveram início com as etapas seguintes. Entreguei toda a documentação um ou dois dias após a visita ao imóvel. Gostei muito do imóvel, do preço, da localização, do prédio etc. Fiz apenas algumas ressalvas à corretora no que tange a um buraco no teto do banheiro, exatamente na área do box. Ela me falou que isso “apareceria na vistoria” e nós não teríamos problema com o buraco. Entreguei logo a documentação para garantir a locação do imóvel.
Alguns dias depois, recebi uma ligação de uma moça chamada Cristiane. Ela me informou que minha documentação estava em ordem e que o contrato seria preparado. Me perguntou se a garantia seria com fiador ou com seguro fiança. Informei-lhe que seria seguro fiança pela Porto Seguro, feito com meu corretor particular. Cristiane me avisou que o pagamento da Porto Seguro deveria ser feito à vista e em dinheiro. “Ok”, respondi, “eles podem fazer o débito em minha conta corrente como sempre fazem com o seguro do carro”. No mesmo dia passei os dados para meu corretor, Ricardo.
Alguns dias depois, recebi uma ligação de Cristiane me solicitando que comparecesse a Hoffman para assinar o contrato; o ideal seria que eu fosse na sexta-feira. “Tudo bem. Posso passar aí por volta das 14 horas?”, perguntei. “Não, tem que ser às 16 horas”. Perguntei a ela quantos dias demoraria o processo todo. Ela me informou que uma vez assinados e com firmas reconhecidas, tudo seria muito rápido. Insisti, dizendo que precisava me mudar o quanto antes e gostaria de marcar caminhão e a mudança nos dois prédios ( o que eu estava deixando e o em que eu estava chegando).
Cheguei a Hoffman às 15:55. Na recepção, três homens conversavam entre si e se queixavam de problemas com a imobiliária. A recepcionista foi até eles e disse que eles não seriam atendidos por Cristiane naquele dia, pois havia outra pessoa para as 16 horas e eles não haviam marcado hora. Os homens se zangaram porque, aparentemente, não era a primeira vez que eles estavam ali e haviam sido instruídos a ir até lá resolver seus problemas. Quando chegaram, descobriram que deveriam ter marcado hora. “Ok”, pensei, “é um mal entendido. Essas coisas acontecem”.
Fui atendido as 16:40 (40 minutos depois do que havíamos marcado). Comecei pela leitura do contrato. Na primeira página, percebi que o endereço estava errado. Informei que o apartamento não era esse. “É, sim” respondeu Cristiane. “Não, não é. Eu estive lá e o apartamento não é esse”. Ela revirou alguns papéis e encontrou divergência nos dados. Foi confirmar e reconheceu que o contrato estava errado. Mais uma vez pensei ”Ok, é um mal entendido. E essas coisas acontecem”.
Continuei a leitura do contrato. Uma cláusula me chamou a atenção. Ela versava sobre a responsabilidade dos danos causados aos vizinhos por vazamentos e coisas do tipo. “Aqui diz que eu sou responsável por qualquer dano, mas e se for algo estrutural ou pré-existente?” “Bem, neste caso é responsabilidade do dono do imóvel”. Questionei que isso não estava especificado. De que vale um contrato escrito se é necessária uma ressalva verbal? Mas confiei que a Hoffman era uma empresa séria e continuei. Perguntei sobre a vistoria, quando eu poderia fazê-la. Cristiane me respondeu que a vistoria já estava feita. Uma pessoa da imobiliária havia feito a vistoria e emitido um laudo. Comentei o quanto isso era absurdo, que eu deveria estar junto na vistoria. Cristiane me respondeu que era assim e que eu poderia, caso fosse necessário, escrever uma carta de contestação do laudo da vistoria em até 10 dias. Achei isso muito estranho, era a primeira vez que me deparava com uma vistoria de locação feita à revelia do locatário. Mas confiei que a Hoffman fosse séria e continuei.
Após tudo assinado, ela me pediu que reconhecesse firma em cartório. Disse que tudo bem, levaria o contrato na sexta-feira e o traria reconhecido na segunda-feira. Ela insistiu que eu fosse reconhecer firma do contrato naquele dia mesmo, em um cartório de São Caetano. Se eu fizesse isso, o dono do apartamento também assinaria logo e poderíamos mandar o contrato para a Porto Seguro chancelar. Como eu tinha certa pressa, fui até o cartório.
No cartório, recusaram-se a reconhecer firma, pois a data do contrato era do dia 1 de março (e aquele dia era 29 de fevereiro). Apesar de não ter podido levar o contrato e trazê-lo reconhecido na segunda, apesar de ter ido à toa ao cartório, acreditei tratar-se de um mal entendido, e essas coisas acontecem, e confiei que a Hoffman fosse séria. Abri firma no cartório, voltei a Hoffman e pedi a ela que mandasse reconhecer firma na segunda-feira, junto com a do dono do imóvel. Ela se desculpou pelo equívoco. “Tudo bem, acontece”.
Mais uma vez ela me ressaltou que o seguro deveria ser pago à vista e em dinheiro. Mais uma vez disse a ela que havia dado à Porto Seguro a autorização para débito em minha conta (minha forma de pagar as coisas à vista e em dinheiro). Perguntei sobre os prazos para liberação de tudo. Ouvi que assim que o dono assinasse, tudo se resolveria bem rápido.
Desde que havia marcado a data de assinatura do contrato, havia agendado minha mudança para a última quinta-feira. Havia confirmado os prazos para os trâmites e seis dias eram suficientes. Contratei caminhão e agendei as mudanças nos prédios. Quando liguei para o Edifício Martha, o porteiro com quem agendei a mudança me alertou: “cuidado com a Hoffman. Veja direito toda a questão da documentação. Já tivemos diversos problemas com eles envolvendo inquilinos.” Achei que era um mal entendido e confiei que a Hoffman fosse séria.
Na segunda-feira liguei. O contrato ainda não estava assinado. Na terça o contrato já estava assinado e havia sido mandado para reconhecer. Na terça a tarde, voltei a ligar. Foi reconhecido, mas ainda não havia voltado para ela. Lembrei que meu corretor precisava ir até a Hoffman buscar o contrato para levar até a Porto Seguro. Lembrei também que já havia contratado caminhão e agendado a mudança.
Meu corretor pegou o contrato na quarta-feira. Ele havia me prometido que devolveria para a Hoffman com a chancela da Porto Seguro no mesmo dia. Não conseguiu. Acabou devolvendo na manhã de quinta-feira (no dia de minha mudança). Quando achava que seria apenas ir até a Hoffman e retirar a chave para me mudar, acabei sabendo que a chave não seria liberada até que a Hoffman recebesse o recibo de meu pagamento do seguro. Vim a saber que a Porto Seguro só faria o débito em minha conta até cinco dias após a chancela do contrato. Na quinta-feira, com a empresa de mudança me esperando em frente ao prédio, tive que ir, com o carro cheio e muito cansado, até a Porto Seguro de Santo André e efetuar o pagamento à vista e em dinheiro (não de minha forma habitual, mas da forma como se fazia nos anos 50).
Fiz o pagamento e fui até a Hoffman. Não quis entrar em discussões sobre de quem foi qualquer tipo de culpa. Estava cansado, com fome e irritado. Mas sempre há a possibilidade de um mal entendido. Pedi a Cristiane que simplesmente me desse a chave.
Ela me entregou a chave, o controle da garagem e uma pasta de documentos (o manual do locatário e o laudo de vistoria). Cheguei ao prédio e entreguei os documentos ao porteiro (diferente daquele com quem agendei a mudança e que já havia me alertado sobre a Hoffman). Este olhou cada documento e me disse que estava faltando uma autorização de entrada que a imobiliária emite para cada novo inquilino. Mencionou também que é praxe das imobiliárias entregarem tal documento e que esta não era a primeira vez que a Hoffman fazia locações naquele condomínio (logo, deveria conhecer as regras). Sem o documento, não poderia me deixar entrar.
Liguei para a Hoffman e mencionei o problema à Cristiane. Ela me disse que, de fato, estava faltando o documento. Entreguei meu celular para que ela falasse com o porteiro. Este repetiu a ela que, por questões de segurança e cuidado com o patrimônio do proprietário, deveria ter o documento em mãos.
Quando o porteiro me devolveu o celular, Cristiane de desculpou, reconheceu o equívoco e me pediu que fosse até a Hoffman buscar o documento (!). Respondi que naquela situação era inconcebível ainda me pedir que fosse até lá. Ela me disse que não havia ninguém lá que pudesse me levar o documento e, mais uma vez, se desculpou. Respondi que não queria que ninguém se desculpasse, mas que resolvessem os problemas que causaram, mandando o documento por um táxi ou um motoboy. Ela me disse que não tinha como fazer isso e eu precisaria ir até a Hoffman buscar.
Fui até a Hoffman buscar o documento, já não acreditando mais em meros mal entendidos e nem confiando na seriedade de sua empresa. Peguei o documento e levei ao prédio. Entreguei-o ao porteiro e ao zelador. Estes, se compadecendo de minha situação e da incompetência de eu fora vítima, disseram que tudo bem, eu poderia descarregar minha mudança mas, pasmem, o documento não era aquele (!). Fizeram alguns comentários jocosos sobre o documento emitido pela imobiliária (incluindo o fato dele ter sido recortado à mão). Me explicaram a situação e deixaram que eu passasse.
Os problemas poderiam ter terminado ali, se não houvesse mais à minha espera no apartamento. A luz do apartamento havia sido desligada. Apesar do laudo da vistoria falar em luzes e ventiladores de teto funcionando, não havia ligação elétrica nenhuma no apartamento.
O laudo também fala em nenhum vazamento aparente no tanque. Pois alguns segundos de água escorrendo pela torneira geram uma goteira embaixo do sifão.
A caixa de descarga (também sem nenhum vazamento aparente), continua a escorrer água muitos minutos após a descarga parar de funcionar.
O mais grave acontece na pia da cozinha. A cuba da pia (que o laudo diz estar em bom estado) está completamente solta. O rejunte está todo quebrado, com grandes pedaços saindo de dentro do gabinete. Embaixo da cuba, um cabo de vassoura a sustenta (!). Qualquer tentativa de usar a pia se converte em uma cascata de água suja no gabinete.

Os fatos contradizem os uniformes bonitos e decoração moderna que a Hoffman ostenta. Até hoje, não fui cliente de muitas imobiliárias. Em minha última locação, fiquei no imóvel por 7 anos (sem nunca atrasar um único aluguel). E lhes digo que a Hoffman foi, com certeza, a pior a me atender até hoje.
Se a Porto Seguro leva 5 dias para debitar em conta o valor do seguro e se a chave só é liberada após este débito, será que eu não deveria saber disso? Será que todas as vezes em que eu liguei e confirmei a data de minha mudança não mereceriam um alerta por parte da imobiliária? Não há na imobiliária alguém com competência para me instruir corretamente? De fato eu ouvi diversas vezes que o seguro deveria ser pago à vista e em dinheiro, mas sempre retruquei sobre o débito em conta. Dada a situação, não deveriam os profissionais da área me alertar para o tempo de trâmite? É a primeira vez que vocês fazem isso?
Se um documento que deveria estar na minha pasta foi esquecido, eu devo ir atrás de consertar a situação? Será que ninguém assume responsabilidade por nada nesta imobiliária? O que vale mais: dez reais de um motoboy ou a imagem de sua empresa? E ainda fui levado à entregar na portaria o documento errado. Também isso eu terei que consertar?
A questão da luz é um caso a parte. Pela falta de aviso e pela demora da Eletropaulo para ligar a luz do apartamento, estou sem luz elétrica em casa desde a quinta-feira da semana passada. Não posso responsabilizá-los pela demora da Eletropaulo (para isso já contatei a ANEEL). No entanto, se a vistoria tivesse sido feita com o locatário, isso já teria sido percebido em tempo hábil para solicitar a ligação de luz. Se, ao invés de simplesmente escrever no laudo que as luzes e os ventiladores de teto estão funcionando, uma pessoa tivesse se dignado a me acompanhar em uma vistoria, não teria tido o profundo aborrecimento de ficar desde quinta-feira no escuro, sem geladeira e impossibilitado de trabalhar no computador. Isso gerou prejuízos para mim e para minha esposa. Não há procedimento na imobiliária sobre isso? Vocês não deveria zelar pelo processo de locação, para que ele transcorra sem problemas? Pois isso não aconteceu.
Talvez a vazamento do vazo sanitário e do tanque sejam discretos demais para serem percebidos sem alguns minutos de inspeção cuidadosa (ainda que a obrigação da imobiliária seja fazer uma inspeção cuidadosa). No entanto, como, em sã consciência, alguém pode dizer que a pia da cozinha está em bom estado? Como deixar passar o fato da pia estar quebrada neste nível? É possível ver luz dentro do gabinete entrando pelas quebras do rejunte. Como deixar passar um cabo de vassoura que escora a pia?
Que tipo de vistoria foi feita? Será que os donos do apartamento sabem em que estado está seu imóvel? Será que eles têm consciência da forma como vocês estão recebendo de volta o imóvel após a locação?
Os últimos dias têm sido um pesadelo para mim. E não posso deixar de apontar fatos concretos que colocam a Hoffman como principal responsável. É difícil acreditar que a cascata de equívocos, mal entendidos, erros ou desinformações não sejam um caso de incompetência. Entendo que o nome de uma imobiliária deva suscitar confiança e credibilidade em quem pretende alugar um imóvel, mas não vejo mais como esperar tais impressões de sua empresa.
Vim da zona oeste, onde comprei um apartamento que deve ser entregue no final deste ano. Meus planos eram de vendê-lo e comprar algo em São Caetano (cheguei a perguntar sobre alguns dos belos quadros que vocês têm na parede). Como professor titular do IMES, pretendia ficar mais perto de meu trabalho. Arrependi-me profundamente. Infelizmente, hoje já não posso mais voltar para meu apartamento antigo (ele já foi alugado). Assim, me vejo obrigado a permanecer neste imóvel até que o apartamento que comprei fique pronto. Quando isso acontecer, saio deste apartamento.
Tenho plena consciência de que pagarei multa por isso. Está no contrato e eu, como pessoa séria, pretendo cumpri-lo à risca. Estou plenamente disposto a pagar e entregar um apartamento bonito e bem localizado apenas para não ter mais que lidar com a Hoffman. Notem, porém, que quando precisei de uma imobiliária, escolhi a Hoffman e sua administração de locações achando que seria um serviço bem prestado. No entanto, ao contrário do que imaginei na primeira vez em que entrei na Hoffman, os uniformes que combinam com a mobília não são sinônimo de qualidade no serviço.
Aguardo providências urgentes quanto aos problemas que indiquei no apartamento. Caso alguém queira contestar algo do que disse nesta carta, sintam-se à vontade para ligar em meu celular: XXXX XXXX.

Christian Hugo Pelegrini


PS: cópias deste documento seguem para os donos deste imóvel, para a delegacia do CRECI e serão postados em meu blog.




Pronto, fim da carta. A imobiliária não fez nada além daquelas desculpas que eu mencionei. E não parecem ter a menor preocupação com qualquer coisa (muito menos com o que eu penso sobre eles).

Vou escrever para o programa do Gugu e pedir para participar do quadro "De volta para minha terra". Quem sabe ele não paga o caminhão de volta para o Jaguaré? ;)


BG: Song to the siren, Tim Buckley

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